Localizado em Aquidauana, território terena foi um dos três escolhidos no país em projeto federal de turismo
Cercada por morros, nascentes e cavernas, a Terra Indígena Limão Verde, em Aquidauana, foi escolhida como uma das três do país para integrar o projeto-piloto do Brasil Turismo Sustentável, programa do Governo Federal que valoriza comunidades tradicionais por meio do etnoturismo.
Com mais de 5,4 mil hectares, a Terra Indígena Limão Verde abriga cerca de 1,7 mil indígenas da etnia Terena, que têm na produção agrícola familiar, como o cultivo de frutas, feijão e mandioca, sua principal fonte de sustento. O território é formado pelas aldeias Limão Verde, Buritizinho e Córrego Seco.
Esse cenário chamou a atenção do Ministério do Turismo, já que o etnoturismo é uma modalidade que promove a vivência cultural em comunidades indígenas, com foco em proporcionar aos visitantes a oportunidade de conhecer costumes, tradições, gastronomia e artesanato dos povos originários.
A cerimônia de assinatura aconteceu na última quarta-feira (9), no campo de futebol da Aldeia Limão Verde, com a presença de representantes do Governo Federal, da Prefeitura de Aquidauana e de moradores.
Além das solenidades, a festa teve apresentações culturais, como a dança feminina Suputerena, feita como forma de agradecimento, e a dança da ema, Kohixoti Kipâee, realizada pelos homens, além de tendas com comidas típicas, pintura corporal e artesanato tradicional.
Segundo o cacique Ademilson da Silva Souza, liderança da Aldeia Limão Verde, a escolha da comunidade foi motivo de orgulho. “A gente está representando a região Centro-Oeste do Brasil. Foram três aldeias escolhidas: uma no Pará, outra na Bahia, e nós aqui. Isso foi tão gratificante para nós”, disse.
Agora, o projeto entra na fase de formação, com três meses de oficinas sobre gestão turística, mapeamento de atrativos e construção de um plano de visitação. “Queremos aproveitar a mão de obra daqui. Temos jovens formados em turismo e administração que estão parados. Essa é uma chance de trabalhar aqui mesmo, com a nossa cultura”, reforça Ademilson.
Durante esse período, a aldeia vai receber turismólogos da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e parceiros como o Sebrae e o Ministério do Turismo. Só após essa etapa e com aval da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), as visitas turísticas serão oficialmente autorizadas. “Já começou o curso. A equipe está aqui mapeando os pontos turísticos: as trilhas, as cavernas, as nascentes. Tudo isso vai entrar no projeto. Mas só depois da autorização da Funai é que a gente vai poder abrir para visitação”, explicou.
Para o cacique, estruturar o turismo nas aldeias significa uma mudança profunda na dinâmica local. “Antes, a gente tinha que ir até a cidade para vender o que produzia. Agora, com o turismo chegando, as pessoas vêm até nós. Isso muda tudo. Nossa cultura precisa ser valorizada. Aqui a gente tem comida típica, artesanato, histórias. E agora o turista vai vir até nós, não o contrário”, comenta.
Além da iniciativa turística, a Terra Indígena também desenvolve projetos de reflorestamento e coleta de sementes. “Temos dois projetos em andamento. Um em parceria com o pessoal do PrevFogo, que faz mudas, e outro aqui mesmo no Limão Verde. Hoje o pessoal coleta sementes e está vendendo. É uma fonte de renda aqui na comunidade”, explica.
Rota turística oficial – O secretário de Cultura e Turismo de Aquidauana, Pedro Henrique Mendes Fialho, o Pepeu Fialho, destaca que a integração das aldeias indígenas ao roteiro turístico da região é mais que uma conquista. “Com esse produto da comunidade, vamos potencializar ainda mais os produtos que já temos”, diz.
“Nós, como Secretaria de Turismo, vamos acompanhar esses três meses e inserir esse produto turístico, no final, na nossa prateleira de produtos turísticos. Assim como nós temos Camisão, Piraputanga, Pantanal, esse será mais um atrativo. Nosso papel é divulgar esse produto para gerar renda para a comunidade indígena”, completa o secretário.
Pepeu destaca que a iniciativa de integrar o programa partiu das lideranças locais. “Isso foi um anseio da comunidade. Nós não chegamos lá e impusemos esse programa. Foi uma conversa em que a comunidade trouxe essa demanda para nós”, afirma.
Para ele, o principal impacto será na economia local. “Eu acredito que o mais importante é a fonte de renda que eles vão ter. É uma alternativa real de geração de renda e fortalecimento da identidade”.
› FONTE: Campo Grande News