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Moradores do interior temem lotação por campo-grandenses no "feriadão"

Publicado em 19/03/2021 Editoria: Região


O feriadão forçado marcado por Campo Grande para a semana que vem, para conter o avanço da pandemia, está assustando os moradores do interior de Mato Grosso do Sul. Isso porque, após a prefeitura anunciar ontem (18), o fechamento da Capital por nove dias e ainda antecipar cinco feriados, o fluxo de ligações para pesqueiros e balneários disparou.
 
“Ligando tem toda hora querendo saber de peixe, movimento e valores”, conta o proprietário do Pesqueiro 110, Carlos Sato, 66 anos.
 
O pesqueiro como o próprio nome já diz, está a 110 quilômetros de Campo Grande, próximo do município de Aquidauana localizado a 135 km da Capital.
 
Carlos relata que boa parte dos clientes que vão ao local mora em Campo Grande. “70% é de gente daí, e outros 30% de São Paulo e Rio de Janeiro”. O pesqueiro continua funcionando nessa pandemia, porém o empresário afirma que em quantidade reduzida, pois também sente medo de ser contaminado pelo vírus.
 
“Não adianta vir muita gente e trazer covid-19. Temos medo, estou na terceira idade a pandemia está afetando todos. Moro aqui há 30 anos, e agora chegou num patamar desses. Quem tiver com sintomas nem vem”.
 
“Estamos trabalhando com reservas, mas a pessoa passa por uma triagem para não correr risco”, explica Carlos Sato sobre o procedimento de biossegurança para evitar a propagação de vírus no local.
 
Procura - “Aumentou demanda. Houve uma procura acentuada de especulação de preços, reservas”, revela Ely Souza, 52 anos. Ele é dono do Rancho do Ely, lugar onde a população costuma ir para pescar e conhecer a natureza.
 
O rancho fica na entrada da estrada Parque Piraputanga, também em Aquidauana. “Nossa região se tornou o ponto de turismo mais próximo da Capital”, afirma Ely que também integra do Contur (Conselho de Turismo) do município.
 
Ely relata que a preocupação tomou conta dos moradores da região desde o ano passado. “Nosso município tem se preocupado em segurar ao máximo para não quebrar a gente. A nossa bandeira [de contaminação] não é a mesma de Campo Grande", diz.
 
 
“O vírus é mortal tanto quanto outras doenças. Mas, a nossa realidade é diferente de quem vive na Capital. Aqui temos natureza em abundância, não tem aglomerações como nos grandes centros e todos estão tomando cuidando. Nos quiosques do pesqueiro, só ficam pessoas da mesma família, mantemos o distanciamento”.
 
O momento não está fácil para ninguém e Ely desabafa sobre a situação.
 
 “Estamos quase quebrados. O ser humano está com psicológico abalado, precisa tomar um ar puro. As pessoas estão tendo necessidade de sair”.
 
Sem vaga - O “congestionamento” das ligações também ocorreu nas linhas de telefone do Pesqueiro Jatobá, perto de Maracaju, 160 quilômetros da Capital.
 
“Existe uma quantidade grande de pessoas que frequentam nossos espaços nos finais de semana, principalmente aos domingos, mas agora vou ter que reduzir”, afirma Márcia Oliveira, 50 anos.
 
Ela é uma das proprietárias do local, onde trabalha apenas família. “Estamos aqui há mais de 20 anos. Recebemos muitas pessoas, principalmente de Maracaju, dá super lotação no pesque e pague, porém realmente não vamos conseguir atender todos", afirma.
 
Desabafo – A 54 quilômetros de Campo Grande está a Fazenda Piana, outro ponto muito frequentado pelos moradores da Capital. O espaço turístico conta até com parque aquático e apesar de estar seguindo os protocolos de segurança o gerente Dejair Passos, 48 anos, fala sobre a falta de noção de alguns frequentadores que insistem e não seguir as regras.
 
“O pessoal quer transferir a responsabilidade deles. A gente procura da melhor maneira atender o decreto, mas o cliente também tem que cumprir a lei porque é pra todos. A fazenda é um espaço aberto, eles também precisam dar garantia de segurança”, frisa.
 
Desde que a pandemia começou, o gerente afirma que o fluxo de pessoas no local caiu consideravelmente. “Caiu, é horrível pra nós. Como empresários, temos que cuidar dos funcionários, do faturamento e prezar pelas pessoas que visitam o espaço, que também precisam ter consciência”.
 
Desde ontem, o número de procura para ir ao local nos próximos dias aumentou. “Bastante gente continua procurando. Geralmente aumenta a procura quando a cidade [onde cliente vive] fala em fechar”.
 
Sem controle- O “lockdown” de Campo Grande também faz o medo tomar conta da população de Jaraguari, 44 quilômetros da Capital. O local geralmente pacato costuma receber muitos visitantes durante os feriados e finais de semana, segundo o prefeito Edson Nogueira (PSDB).
 
“Gera medo porque não temos mais leitos nos hospitais. Temos 19 assentamentos aqui, além da Furnas do Dionísio, onde as pessoas costumam ir durante as férias. Acredito que o fluxo vai aumentar a partir de amanhã [20] e não temos como controlar”, diz.
 
Conforme o prefeito, existem sete caminhos por onde as pessoas podem entrar na cidade e isso dificulta o controle de quem entra e sai de Jaraguari, que já não tem recursos para investir em barreiras sanitárias.
 
Apesar do pico alto da covid em Campo Grande, ele destaca que não pretende fechar o município. “Aqui é outra realidade, os comércios são pequenos. Estamos tomando as precauções, temos o toque de recolher às 20h. Mas, a população está reclamando da situação financeira que está ficando precária. A gente não sabe mais o que fazer, está difícil”, declara.
 
Fechado – O balneário municipal de Corguinho, 88 quilômetros de Campo Grande, já está fechado segundo a prefeitura do município. Ninguém pode entrar no local e quem ousar, poderá ser preso pela polícia.
 
Um moradora de 60 anos, que prefere não ser identificada, relata que a cidade é um lugar tranquilo e cheio de chácaras no entorno. Ao saber do fechamento de Campo Grande, ela comenta sobre o medo da população local.
 
“Vem muita gente de Campo Grande para visitar os ranchos. Aqui temos apenas três mil habitantes dentro da cidade, não temos eventos e apenas uma unidade de saúde para emergência. Não estamos na fase crítica de covid, mas essa situação está preocupando a gente”.
 
Proibição – Já em Rochedo,74 quilômetros de Campo Grande, a saída para conter visitantes é investir na fiscalização e proibir aluguel de salão de festas, segundo o secretário de Saúde do município, Carlos Roberto da Silva.


› FONTE: Campo Grande News